04/06/2025 / Cyber Security

O Papel Do Comportamento Humano Na Facilitação De Ataques Cibernéticos

Por Dacyr Gatto.


1. Introdução

A crescente digitalização dos processos corporativos e o aumento do uso de tecnologias da informação ampliaram a superfície de ataque das organizações, expondo-as a ameaças cada vez mais sofisticadas. Apesar dos avanços tecnológicos em soluções de segurança da informação, como sistemas de detecção de intrusão (IDS), firewalls de próxima geração e soluções baseadas em inteligência artificial, o elo mais vulnerável da cadeia de segurança permanece sendo o fator humano.

              Ataques que exploram a engenharia social, como o phishing, continuam sendo altamente eficazes, independentemente da maturidade dos controles técnicos existentes. Segundo o relatório Data Breach Investigations Report (DBIR) da Verizon (2023), 74% dos incidentes de segurança envolveram o fator humano. Este dado evidencia a urgência de reavaliar o papel do comportamento humano na segurança cibernética, com foco em educação, treinamento e cultura organizacional.


2. Considerações

2.1 O Comportamento Humano como Vetor de Ameaças

O comportamento humano é influenciado por múltiplos fatores, incluindo cultura organizacional, pressão por produtividade, conhecimento técnico limitado e vieses cognitivos. Esses elementos criam um ambiente propício para ataques baseados em engenharia social, em que o atacante manipula emoções ou explora hábitos automatizados dos usuários.

Tais comportamentos desviam-se dos princípios de segurança descritos em normas como a ISO/IEC 27002:2022, que recomenda práticas como o bloqueio automático de estações de trabalho, políticas de senhas seguras e controle de acesso baseado em necessidade de conhecimento (need-to-know basis). Entretanto, a conformidade formal não garante segurança comportamental real se os indivíduos não internalizarem os riscos.


2.2 Phishing: O Ataque mais Explorado

O phishing continua sendo o principal vetor de comprometimento inicial em ataques cibernéticos. Trata-se de uma técnica que visa enganar o usuário para que forneça informações sensíveis, instale malware ou conceda acesso não autorizado a sistemas internos. As principais variações incluem:

  • Spear Phishing: Personalizado e direcionado a indivíduos específicos.
  • Whaling: Foca em executivos de alto escalão.
  • Smishing: Realizado via mensagens SMS.
  • Vishing: Utiliza chamadas telefônicas para persuadir a vítima.
  • Quishing: forma de ataque de phishing que utiliza QR Codes (Quick Response Codes) como vetor de ameaça.
  • Business Email Compromise (BEC): Manipula o contexto de e-mails corporativos para autorizar transações fraudulentas.

Esses ataques exploram a confiança, autoridade, urgência e curiosidade — mecanismos psicológicos bem documentados na literatura de segurança comportamental.


2.3 A Importância da Conscientização em Segurança da Informação

Conforme sugerido pelo NIST SP 800-50, programas de conscientização devem ser contínuos, contextuais e incorporados à cultura organizacional. Treinamentos pontuais e genéricos não são suficientes para combater a sofisticação crescente dos ataques. Programas bem-sucedidos utilizam técnicas como:

  • Simulações de phishing com feedback imediato.
  • Microlearning com conteúdos interativos.
  • Gamificação de boas práticas de segurança.
  • Indicadores de performance ligados à resposta a incidentes simulados.

A ISO/IEC 27001:2022, ao definir controles no Anexo A (como o A.6.3 – Responsabilidades de segurança da informação), enfatiza que a segurança deve ser compreendida e praticada por todos os colaboradores, não apenas pelo setor de TI.


2.4 Frameworks e Governança da Segurança Cibernética

Frameworks de governança como o COBIT 2019 propõem objetivos como APO07 (Gerenciar recursos humanos) e DSS05 (Gerenciar serviços de segurança), os quais destacam a necessidade de investir em capacitação, políticas, cultura organizacional e mecanismos de resposta.

Já o NIST Cybersecurity Framework (CSF), amplamente adotado por organizações públicas e privadas, aponta a função "Awareness and Training" como fundamental no pilar "Protect", exigindo que usuários compreendam suas funções e os riscos associados.


3. Conclusão

O comportamento humano permanece como um dos elementos mais explorados por cibercriminosos, sendo o principal ponto de entrada em grande parte dos ataques bem-sucedidos. A simples adoção de tecnologias e controles técnicos, mesmo quando alinhados a normas como a ISO 27001 ou frameworks como o NIST CSF e COBIT, não é suficiente se não houver um investimento real e contínuo na educação e conscientização dos usuários.

A segurança cibernética moderna deve integrar os aspectos técnicos e comportamentais, adotando uma abordagem sociotécnica que trate o ser humano não apenas como vetor de risco, mas como parte ativa da defesa organizacional. Programas de conscientização robustos, que levem em conta a psicologia do usuário e as dinâmicas culturais da organização, são essenciais para reduzir a superfície de ataque e elevar o nível de maturidade em segurança da informação.

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Referências

ISO/IEC. ISO/IEC 27001:2022 — Information Security, Cybersecurity and Privacy Protection – Information Security Management Systems – Requirements.

ISO/IEC. ISO/IEC 27002:2022 — Information Security Controls.

NIST. Special Publication 800-50 — Building an Information Technology Security Awareness and Training Program, National Institute of Standards and Technology.

NIST. Cybersecurity Framework (CSF) — Framework for Improving Critical Infrastructure Cybersecurity, Version 1.1, 2018.

ISACA. COBIT 2019 Framework: Governance and Management Objectives, 2019.

Verizon. 2023 Data Breach Investigations Report.

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